domingo, 14 de fevereiro de 2010

    "My Story" - Capítulo VI (Parte 2)

    Olá, leitores deste Blog! Fazendo cálculos rápidos, cheguei à conclusão de que há 28 dias eu não posto nada aqui e que se passaram incríveis 70 dias sem publicar nada relacionado à My Story! Mas depois de todo esse tempo, volto com tudo (ou não) para fazer desse Blog um dos seus lugares de perda de tempo lazer e leitura preferidos! (Eita, quanta conversa fiada... Kkkkkk). Sinceramente, eu estou gostando de escrever. Acho que já defini quase completamente o meu estilo de narração. Agora é só colocar o cérebro pra trabalhar e criar um contexto bacana. Esclarecimentos à parte, enjoem-se deleitem-se com a segunda e última parte do Capítulo VI. (E aguardem o Capítulo VII...)

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    MY STORY - CAPÍTULO VI (Parte 2)

    Sem hesitar por um só segundo, todos (menos Kay) já estavam com armas nas mãos. As armas estavam nas caixas, escondidas da visão de qualquer um, porém num lugar estratégico, onde era fácil pegá-las. Kay não teve muito tempo pra entender o que estava acontecendo, ainda mais porque Ley não havia explicado nada sobre possíveis combates e nem quais armas ele deveria usar. Ele viu os homens dando uns passos rápidos para trás, adquirindo posição de batalha, prontos para atacar ou se defender. Viu também Ice e Cold largando os camelos e correndo para frente, parando um de cada lado de Ley.

    Ice empunhava uma espada longa e grossa. Kay imaginou que se alguém levasse um golpe lateral daquela espada, mesmo sem ser tocado pela lâmina, apenas o impacto do metal seria capaz de quebrar um osso ou causar um bom estrago. Cold também empunhava uma espada. Uma em cada mão, na verdade. Eram duas espadas idênticas: longas e finas. Pareciam leves. A lâmina era mais larga na base e ia se estreitando conforme chegava na ponta arredondada, porém afiada. Mas o que mais impressionava era o que Ley empunhava com as duas mãos. “De onde ele tirou isso?”, pensou Kay, “Tenho certeza que não caberia em uma dessas caixas”. Era uma espécie de machado. Só que tinha duas lâminas, uma apontando para o sentido oposto da outra. Bastaria jogar aquela arma em cima dos ladrões e pelo menos uns dois seriam esmagados.

    Enquanto tudo isso acontecia, Kay ia ficando cada vez mais nervoso. Porém, quando compreendeu toda a situação, previu que a batalha estaria ridiculamente ganha dentro de poucos segundos.

    -Desculpe-nos... - disse Ley, respondendo aos ladrões. - Mas temos poucas provisões e um longo caminho pela frente. E também não estamos dispostos a entregar nossas vidas. Mas podemos, sem problema algum, acabar com o sofrimento de vocês, os deixando em pedaços aqui mesmo. O que acham disso?

    -Pra mim está tudo bem - disse o homem. - Mas vocês é que serão despedaçados!

    Dois dos homens deslizaram em direção à Ley, enquanto outros dois correram para lados opostos, já se preparando para cravar as espadas nos dorsos de Ice e Cold. O homem que estava com espada de valor permaneceu no lugar, apenas observando a movimentação dos companheiros. Tudo aconteceu rápido e de maneira confusa para Kay, que não sabia nem onde focar sua visão. Bastou que piscasse os olhos (ouviu sons metálicos quase simultâneos nessa hora), para depois ver as lâminas dos companheiros manchadas de sangue e quatro corpos mutilados no chão, ainda gemendo, se contraindo e esguichando sangue na areia.

    Embora Kay estivesse assustado com aquela cena, estava também aliviado por tudo ter acabado tão rápido e sem nenhum prejuízo.

    -Veja só, Ice - disse Cold. - Acho que não somos nós, ali no chão, né?

    -Não mesmo - respondeu Ice. E depois se dirigiu ao homem. - Se você quiser, nós o deixaremos correr um pouco, antes que o garoto te acerte uma flecha na nuca...

    -Muito obrigado, mas isso não será necessário - respondeu o homem, com a mesma traquilidade de sempre.

    Ele apenas deslizou a espada pelo ombro, cortando-se propositalmente com a ponta. Depois a encostou no chão e desenhou rapidamente um símbolo na areia. Um brilho azul pulsou no desenho e toda a areia que estava sob seus pés também pareceu brilhar. Kay não conseguia entender direito o que estava acontecendo. Ele viu a luz se alastrar pelo chão até encontrar os corpos despedaçados dos inimigos.

    -Por que as coisas nunca são tão fáceis como nós queremos? - disse Cold, embora aquela luz parecesse a coisa mais natural do mundo, para ele.

    -Kay! - chamou Leyonell. - Eu sei que você quer ajudar, mas agora as coisas tomaram outras dimensões! Isso aqui é demais pra você. Fique entre os camelos, e nós protegeremos as cargas e cuidaremos disso sozinhos.

    Com toda aquela confusão, Kay novamente ficou com medo e fez o que lhe foi ordenado. O brilho azul desapareceu finalmente, com um clarão. Kay pode ver, por entre as pernas dos camelos, o que estava acontecendo. Os quatro ladrões que tinham sido despedaçados, simplesmente não estavam mais em pedaços. Estavam de pé e inteiros, segurando suas espadas curvas. Dava pra notar que tinham muito mais fúria no olhar do que antes.

    Leyonell e seus dois amigos de batalha recuaram um pouco, se aproximando dos camelos, onde estava Kay. O garoto, ainda assustado, aproveitou a aproximação e perguntou a Ley:

    -O que é isso? Quem são essas pessoas?

    -Me surpreendo, garoto, por você não saber o que está acontecendo aqui. Nunca participou de um confronto que envolvesse magia?

    Kay ficou em silêncio por alguns segundos, lembrando-se de seu medalhão e do que já havia feito enquanto o usava. Porém, respondeu negativamente.

    -O que aquele homem fez, foi uma magia de cura - explicou Ley.

    -E não é das piores - completou Cold. - Foi capaz de unir todas as partes decepadas dos corpos dos seus comparsas. E não foi só isso: eles estão mais fortes também. Mas mesmo assim, não há problemas, Kay. Com certeza já enfrentamos coisas muito piores nesse deserto.

    Todos estavam mais preocupados em proteger o garoto e a mercadoria do que em lutar com os ladrões.

    Não há muito o que falar do que aconteceu depois, pela perspectiva de Kay: ele apenas ouviu passos desordenados, tilintar de metal, pancadas secas e gemidos, durante alguns instantes.

    -Está tudo acabado! - disse Ley. - Renda-se, ladrão miserável, e pouparemos sua vida. Todos os seus companheiros estão mortos. Bom, ou pelo menos despedaçados novamente. Não importa quantas vezes você os cure, nós vamos continuar acabando com eles.

    “Realmente”, pensou o ladrão, olhando para sua bela espada, “não há como eu vencê-los. Sou muito forte, mas a diferença de poder entre nós ainda é enorme! Eu os subestimei. Mas...”

    -Já chega de usar os peões! - disse ele afinal, já não tão tranquilamente como antes. - Eu sou a peça principal! É hora de virar o jogo!

    Finalmente ele levantou a espada, em sinal de que iria lutar. Correu na direção de Ice, julgando ser o mais fraco (ou o menos forte), desferindo um golpe direto e frontal com sua espada. O ataque foi bloqueado pela lâmina maciça do oponente, que aproveitou o próprio recuo para aumentar o impulso e a força do contra-ataque. As lâminas se atritaram faiscando, até escapulirem uma da outra, em direções opostas.

    Quase instantaneamente, o ladrão desferiu mais um golpe, inferior dessa vez, com trajetória horizontal. Ice saltou para trás e evitou o corte da lâmina novamente. O ladrão hesitou em dar outro golpe, mas resolveu recuar.

    -É tudo o que pode fazer? - perguntou Ice.

    -Não! Vocês vão ver, seus desgraçados!

    Ele viu que sua espada ainda estava suja com seu próprio sangue. “Sim...”, pensou, “mais uma vez. Não vou ganhar deles sozinho. Mas se eu reviver os peões e usar a aquela outra magia, atacando juntos, ainda temos chance!”

    O ladrão colocou a ponta da espada no chão, começando a refazer o mesmo desenho de antes. Nesse momento, todos ouviram um zunido sobre suas cabeças. No mesmo instante o ladrão soltou sua espada, abrindo a mão direita perfurada por uma flecha.

    -Garoto desgraçado! - disse ele, com o corpo retraído, em sinal de dor.

    Ley olhou para trás e viu Kay na frente dos camelos, ainda segurando o arco na mão esquerda, com o braço esticado horizontalmente. A mão direita ainda estava na altura dos olhos. Estava ofegante.

    -Nós avisamos que o garoto te acertaria com uma flecha - disse Cold. -Mas na próxima, Kay, mire por mais tempo antes de disparar. Errou a nuca dele por quase um metro, hehe...

    Kay estava tenso e não compreendia como os outros podiam estar tão tranqüilos. Pensou até que poderiam estar se divertindo com toda aquela situação.

    -Bem - disse Ley. - Acho que podemos encerrar isso por aqui. Poderia te matar, mas tirar a vida de alguém desarmado, não faz o meu tipo.

    O ladrão, com ódio, se agachou para pegar de novo sua espada, mas foi impedido por outra flecha. Kay disparara rapidamente por impulso, quando viu que o ladrão tinha a intenção de retornar para a batalha. A ponta da flecha é de uma liga especial, criada pelos ferreiros de Mithril, e atravessa facilmente pele, músculos ou até mesmo ossos, se disparada da maneira correta. A fina e sólida haste de madeira ficou cravada na coxa do homem, próxima ao joelho. Num espasmo de dor ele caiu, enquanto ainda mantinha o braço esticado na direção da espada.

    Leyonell pisou seco no pomo da espada, que foi arremessada para o ar, dando um giro antes de ser empunhada com sua mão direita. A ponta estava para baixo, na direção da cabeça do ladrão. Um movimento curto e rápido daria fim à sua vida, mas Ley relaxou e jogou a espada para trás. Ela deu outro giro no ar e caiu verticalmente a uns cinqüenta centímetros de Kay, fincando-se na areia.

    -Parabéns, garoto - disse Ley. - Acaba de ganhar uma arma nova. É uma boa espada... Boa demais para pertencer a um ladrão egoísta. Mas agora, vamos! Temos meio deserto pra atravessar antes do anoitecer.

    O ladrão parecia imóvel e já havia perdido mais sangue do que o normal. Cada um pegou seu camelo e o conduziu, dando cuidadosamente a volta pelos bandidos, antes de retomar sua trajetória em linha reta. Kay caminhava olhando para sua nova arma, imaginando se ela seria mais útil do que o arco e flecha. Foi nesse momento que o corpo aparentemente inerte do homem se moveu num último sinal de resistência. Conseguiu se colocar de pé e dar um salto em direção a Leyonell, que estava de costas em relação a ele. Num jato de adrenalina, tudo pareceu ficar mais lento e Kay percebeu a presença de uma adaga curta na mão do ladrão.

    Leyonell ainda segurava seu enorme machado sobre o ombro direito, e percebeu, mesmo estando de costas, a aproximação rápida do inimigo. Ice e Cold estavam o mais longe possível de Ley, ainda conferindo a mercadoria nas caixas. Kay percebeu que era impossível seu companheiro se voltar para trás em tempo de bloquear o ataque. “Droga!”, foi a única coisa que conseguiu pensar, enquanto largava as cordas do camelo e dava um passo veloz a frente. Ajeitou a destra no punho comprido da espada, já aproximando a outra mão ao pomo. Ele mal sabia o que estava fazendo, e seu coração batia absurdamente rápido. No momento em que a lâmina perfeita se aproximava do ladrão, ele ainda tinha tempo de imaginar a espada atravessando suavemente a jugular do oponente furioso.

    Tudo isso não durou mais que um segundo, mas Kay pode perceber cada detalhe daquele momento, como se sua visão não fosse mais em primeira pessoa. Podia sentir até mesmo o olhar assustado do camelo atrás dele e a preocupação instantânea de Cold e Ice, a uns quinze metros de distância. Ouviu uma batida anormal do seu coração e sentiu um baque no peito. Viu o medalhão, até agora esquecido, lançar um brilho vermelho sob o tecido da camisa, enquanto imaginava a trajetória certeira de sua espada. Notou algo estranho e inesperado. Numa fração de segundo, a espada sólida pareceu se distorcer sob chamas vermelhas. “Fogo?”, pensou Kay.

    A velocidade de tudo a sua volta pareceu se estabilizar, inclusive o movimento de sua espada, agora mais reluzente que o normal e quase viva. Por fim, o resultado do golpe foi diferente de tudo o Kay imaginara. A lâmina flamejante pareceu estar afundando num cilindro de manteiga, ao invés de um pescoço humano. Não houve impacto nenhum e Kay até pensou ter errado o alvo. Mas não errou.

    A mão do ladrão se abriu, deixando a adaga escapulir, enquanto seu corpo caía inanimado na areia manchada de sangue fresco. A cabeça do homem deu quase três giros completos no ar antes de tocar o solo, a uns quatro metros de distância do corpo e rolou por mais um metro antes de parar, coberta por sangue e areia.

    O garoto olhava assustado para o chão, perguntando se ele fizera mesmo aquilo. Ao olhar finalmente para a espada, ainda pode vê-la envolvida em labaredas vermelhas. As chamas se tornaram laranjas, amarelas, diminuíram de tamanho e adquiriram um tom azulado, antes de desaparecer. À medida que as chamas se extinguiam, Kay ficava mais calmo e compreendia de onde vinha todo aquele poder.

    Todos trocaram olhares por alguns instantes e, de repente, Leyonell liberou toda a sua ansiedade em uma enorme gargalhada. Os outros sorriam também, mas de forma mais discreta, enquanto Kay se perguntava qual era o motivo de tanta agitação.

    -Hehehe, garoto! - exclamou Ley. - Parece que finalmente encontrei alguém como eu...

    Seu olhar demonstrava uma animação febril. “Como assim, como ele?”, se perguntou Kay.

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