terça-feira, 9 de março de 2010

    "My Story" - Sonhos

    Nunca estive tão animado em escrever esse troço, embora ninguém leia. Daqui alguns capítulos encerro a minha primeira história. Isso mesmo! Ou acha que eu vou escrever apenas "My Story" pra sempre?... Muitas outras virão, podem esperar isso. Sem mais delongas, aí está, em primeira mão... Mais um capítulo avulso. Boa leitura.

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    Pela terceira noite consecutiva, ela estava tendo o mesmo sonho conturbado. Em um ambiente de luz intensa, via um garoto com uma espada transpassada no peito, ajoelhado. Ela estava de pé, em frente a ele. Podia ver seus olhos vazios, enquanto seu corpo pendia lentamente em direção ao chão. A poucos metros, podia sentir a presença de um homem, mas não o via, pois o local onde ele se encontrava era estranhamente escuro. O homem gargalhava discretamente, enquanto a escuridão que o envolvia se tornava maior e mais intensa, abraçando toda a claridade que ela via no sonho. Agora podia ver apenas o que a luz fraca emitida pela espada permitia enxergar. O peito do garoto brilhava, junto à arma de metal frio. O rapaz ainda tombava em sua direção, embora parecesse que nunca tocaria o solo, pois caía devagar, como se houvesse pouca gravidade no local. Nesse momento, ela involuntariamente tocou a face do garoto com a ponta dos dedos. Ele fechou os olhos, na mesma velocidade em que caía, bem devagar. Mas, em uma fração de segundo eles se abriram, agora com a cor mais vívida e intensa possível. Ele à encarava, mas de forma gentil. Então a luz que envolvia a espada, ainda no peito perfurado, intensificou-se de forma ofuscante, dissolvendo as trevas e estancando a gargalhada do homem, cuja presença desapareceu com a luz. Não se via nada, além da cor branca, capaz de ferir os olhos.

    -Elyn! - disse um voz preocupada. - Ei, Elyn! Acorde. O que está acontecendo aqui?

    -Hein? O que? - disse a garota, procurando o rapaz com a espada transposta no tórax.

    -Está tendo outro pesadelo? Ouvi você se debatendo na cama, lá do meu quarto. Está tudo bem?

    Só então, a garota percebeu que tudo não passou de um sonho. O mesmo sonho repetido das noites anteriores.

    -Oh... Sim - disse Elyn. - Estou bem, mãe. Não se preocupe com nada. Acordei o papai também?

    -Não. Continua imóvel na cama. Ultimamente, o trabalho o tem deixado exausto. Não acordaria nem se a casa estivesse em chamas...

    Elyn deu uma curta gargalhada.

    -Eu quero que a situação dele melhore logo. Nunca vi o papai tão atarefado assim... Mas, mãe, pode voltar pra cama. Estou bem. Obrigada por se preocupar.

    -Tem certeza?

    -Uhum. - disse, com um sorriso aberto no rosto pálido.

    Elyn recebeu um beijo breve na testa e então sua mãe saiu do quarto. A garota pegou o cobertor, que havia caído no chão durante a noite. Levantou os pés para cima da cama e permaneceu sentada, abraçando as pernas. Ficou assim por um longo tempo, pensando no sonho. Três vezes o mesmo sonho, idêntico.

    "O que é isso, agora?", pensou ela, "Nunca tive sonhos intensos antes. E agora, tenho essa visão. Não é um sonho, tenho certeza. É uma visão! E é a mesma coisa todos os dias. É tudo muito estranho, eu sei, mas aquela cena, embora tão surreal, me parece familiar." Fechou os olhos, tentando buscar lembranças, mas foi em vão. "Não adianta! Não me lembro do meu passado. Talvez a visão não tenha nada há ver com ele, mas mesmo assim gostaria de saber o que é."

    Levantou-se e andou até a janela, ao lado da cabeceira da cama. Se apoiou com os cotovelos na janela, pendendo os braços para fora, na noite fria, juntando as mãos, entrelaçando os dedos. A vista dava para o oeste, onde a lua quase cheia iluminava friamente o deserto. Abaixo da janela se estendia, por algumas centenas de metros, a cidade de Therion. Ainda faltavam algumas horas para o sol aparecer e iluminar completamente a cidade, e por enquanto só era possível ver o que a luz da lua e estrelas permitiam. Elyn, deixando os olhos vagarem livremente pela paisagem seca e escura, pensou por mais alguns minutos. "É como se algo me prendesse à essa cidade. Viajei por esse mundo mais do que qualquer outra pessoa. Minha atual família adotiva é boa. Gosto deles. Mas não é por isso que permaneço em Therion..."

    Enfim recolheu os braços, já quase dormentes, e deu um longo suspiro. Se arrastou até a cama e deitou, envolvendo-se parcialmente com o cobertor.

    Fechou os olhos e desejou ter um sonho diferente, onde conseguisse respostas, ao invés de mais perguntas.

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